terça-feira, maio 20, 2025
Colunista

O ser humano multitarefa e o esvaziamento da atenção

Sentamos para estudar ou trabalhar com o celular do lado, apitando e nos enchendo de notificações e informações a todo tempo. Até mesmo nos momentos de descanso o celular nos acompanha. É preciso saber de tudo o que se passa no mundo e também é preciso opinar, mostrar que sei o que está acontecendo à minha volta.

As mensagens de texto se transformaram em áudios, que agora podem ser acelerados, não temos tempo de parar e ouvir o que o outro tem a nos dizer. As redes sociais se transformaram em vídeos rápidos de informações rasas, porque não é possível parar para ler e se aprofundar.

Cada época possui suas enfermidades e, segundo Byung-Chul Han, filósofo sul coreano da contemporaneidade, autor de diversos livros, entre eles o Sociedade do Cansaço, o século XXI é marcado pelas doenças neuronais como a depressão, o transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), o transtorno de personalidade limítrofe (TPL) e a tão falada atualmente, Síndrome de Burnout (SB), condições causadas por diferentes formas de excesso.

Esse excesso destrói ou fragmenta a atenção, apresenta-se aqui o ser humano multitarefa, aquele que quer fazer de tudo um pouco, que quer saber de tudo um pouco, o que poderia ser considerado um avanço, um progresso, na verdade, segundo a visão de Byung-Chul Han, ser multitasking (multitarefa) não significa nenhum progresso civilizatório, mas sim um retrocesso. Trata-se de uma técnica indispensável para sobreviver na natureza selvagem, um animal precisa estar sempre alerta a tudo a sua volta para se manter vivo.

Porém, com a atenção fragmentada, não é possível contemplar, ação necessária para o pensar e criar, para o aprofundamento de ideias, para a troca realmente profunda entre as pessoas, para o desenvolvimento cultural.

A vida corrida e cheia de atividades aproxima a sociedade da vida selvagem, foca na sobrevivência e nos distancia do bem viver, de uma convivência bem-sucedida.

É preciso abrir espaço para a contemplação, para a atenção profunda, para o tédio, para que se possa haver o ócio criativo, como afirma o sociólogo Domenico de Masi, que seria o momento de tempo livre ou o equilíbrio entre o trabalho, estudo e descanso para que se possa favorecer a criatividade. Porém, é óbvio que não podemos ser tão simplistas ao se pensar que a oportunidade de contemplação é possível para todos, primeiramente é preciso que as necessidades básicas sejam atendidas. Podemos utilizar esse momento de contemplação até mesmo para se pensar em um mundo mais igualitário e justo para que todos tenham a oportunidade de se viver melhor.

 

Ana Carolina Rocha Moreira

Bacharel em Direito e Psicóloga